Sando Mesquita
Se descobrindo
Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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Passaram-se os 31 primeiros dias do ano e, por tudo que tem acontecido mundialmente, até dá a impressão que um ano se passou. Ou só eu estou com essa sensação?
Há um grande volume de informações que chega até nós. Algumas com ligações diretas aos nossos afazeres, interesses e que dizem respeito à nossa vida e, portanto, damos mais atenção. Eu, enquanto pai, cidadão, coordenador da Cufa Pelotas, estudante de Ciências Sociais, produtor cultural, rapper, cristão, preciso e consumo muita informação através da leituras diárias que me são indicadas na universidade, juntamente com outras que julgo importantes pra ampliar meu conhecimento em relação a outras áreas co-relacionadas. Vídeos no YouTube, Instagram, coisas escritas nas redes sociais que paramos e damos atenção, conversas diárias com muita ou pouca importância, jornais como este que contribuo e também nos traz várias informações.
Isso também ajuda a ter a impressão de que parece que o tempo está acelerado. Mas, vamos lá, isso também faz parte das descobertas que fazemos. Como o Brasil, que tem sido descoberto a cada dia pelos próprios brasileiros e, para muitos, está longe do alcance. Quando vemos as programações televisivas, os documentários, descobrimos maravilhas naturais, animais, aves, ecossistemas que desconhecíamos. Lugares, pessoas, culturas e costumes de um País com dimensões continentais e um povo plural. Mas não só de beleza vivem as manchetes e descobertas. Nos últimos dias deste início de ano fomos impactados com a triste realidade vivida pelos povos originários que padecem com falta de alimentos, com doenças e destruição do seu habitat pela exploração do minério e outras riquezas. Situações que ficaram ocultas do grande público, assim como os lugares exóticos. O que fazemos, então, com as descobertas, independente do sentimento que elas nos trazem?
Uma coisa são políticas públicas desenvolvidas pelo governo e, neste caso o federal, que tem suas burocracias e formas de operar. Outra coisa é, independente da burocracia, buscar forças e parceiros, arregaçar as mangas e tentar fazer alguma coisa. A Cufa Brasil enviou comitiva até Roraima. Suas lideranças nacionais e locais reconheceram os lugares, conversaram com líderes e a população em geral, fizeram um diagnóstico da situação, mobilizaram parceiros, arrecadaram alimentos e água e estão distribuindo. A Cufa criou uma campanha nacional que pretende alcançar R$ 3 milhões para então construir complexos de saúde.
Bem, o governo pretende dar conta disso junto aos seus ministérios. Tem se reunido, dialogado, demonstrado interesse. A questão é que não devemos tomar o lugar do governo naquilo que são suas atribuições, de dar ao seu povo dignidade através de políticas, programas e projetos que minimizem as questões básicas de sobrevivência e desenvolvimento. Mas também não podemos ficar de braços cruzados diante das descobertas do dia a dia, principalmente se essas descobertas dizem respeito ao modo de vida dos nossos semelhantes.
Não é uma questão de quem tem a obrigação de fazer por ter sido conduzido às esferas de poder, mas sim de quem tem o poder para fazer alguma coisa através de seu esforços, de suas redes de contato, de sua credibilidade, do seu alcance, sua logística. Enfim, do seu trabalho e desejo de ver o País se desenvolver através de seus habitantes. Desde os que já estavam aqui até os que foram chegando. Então, se estamos espalhados em todo território brasileiro, em mais de cinco mil favelas, somos mais de 17 milhões e temos amigos, resolvemos fazer alguma coisa. Fazer a nossa parte.
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